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1875 – RAZÕES PARA SAIR DA POLÔNIA

1875 – RAZÕES PARA SAIR DA POLÔNIA

 

Ao deitar meu olhar para o mapa mundial e observar a distancia entre a Polônia e o Brasil me pergunto: O que levou os polacos que se estabeleceram na colônia Santa Cândida a fazerem essa jornada transoceânica com mulher e filhos pequenos? Será que a Pátria Mãe Polônia estava deveras sendo por demais madrasta? O que buscavam em terras tão distantes?

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Parte da resposta encontro nos livros de história. Em 1875 ano da partida deles para o Brasil a Polônia já não existe como nação livre e independente. Em 1795 o território polonês foi invadido, ocupado e desmembrado entre Prússia, Rússia e Áustria. A Polônia está riscada do mapa das nações independentes.

O historiador Alberto Victor Stawinski, no livro “Primórdios da Imigração Polonesa no Rio Grande do Sul”, p. 14 assim comenta:

Essas três potencias puseram em ação um lento e progressivo processo de despolonização de seus súditos.  Enquanto a Prússia e a Áustria, na ânsia de germanizar a população polonesa, começaram proibindo o uso da língua polonesa nas escolas, igrejas e repartições publicas. A Rússia, tomava medidas mais drásticas, fechando as escolas primárias e vedando aos estudantes poloneses o acesso às escolas de ensino secundário e superior (8). (talvez seja daí a origem da expressão “A coisa ta russa” para situações de extrema dificuldade (*)). 

No livro acima citado Alberto Victor Stawinski, destaca:

Criou-se então, para os poloneses um clima de soturna perseguição, de opressão e de ignóbil ostracismo… Grande número de intelectuais e de abastados homiziaram (refugiaram-se (*)) na França e em outros países da Europa. À classe proletária restou apenas uma saída: buscar a liberdade através da emigração. 

Romão Wachowicz em seu livro Homens da Terra, p.7.) assim escreve:

Partiam atordoados. Libertavam-se da penúria, da opressão, da perseguição. Aliciados e iludidos, demandavam o além-mar.

Quem poderia resistir à tentação?

Todos tinham casos com o senhorio, com o gendarme, com a caterva de vivaldinos.

Os que possuíam coração, os que amavam a Mãe-Terra enxugavam as lágrimas e partiam em busca de areias cintilantes, para no retorno atirá-las aos olhos do inimigo e cegar os tiranos.

Abandonavam searas de trigo. Tentados, aventuravam melhor sorte. Sonhavam com minas de prata, árvores-leiteiras, frutas-pão, maná em desertos. […] Iludidos, corriam para o desconhecido, em busca de fazendas e castelos ilusórios.

No porto, não passavam de um bando de olhos vendados. Empurravam-nos ao navio. E eles subiam humildes, mas não derrotados.

Alberto V. Stawinski ainda dá inúmeros outros detalhes em seu livro sobre a situação da Polônia no século XIX. No entanto como no BLOG – Santa Cândida a história e as histórias de cada um – tratamos especificamente sobre os polacos prussianos aqui estabelecidos transcrevo na integrava o texto de Stawinski que aborda a dominação prussiana.

 

 

OS POLONESES SOB A DOMINAÇÃO PRUSSIANA (1863)

Alberto Victor Stawinski

 

Após a famosa batalha de Leipzig (1813), em que os prussianos e seus aliados: austríacos, russos e suecos, destroçaram o aguerrido exército de Napoleão Bonaparte, a Prússia tornou-se uma das mais importantes potências da Europa. O rei prussiano, Frederico Guilherme III, no desejo de manter a paz e a ordem dentro dos limites do seu reino, quis governar com brandura o anexado território polonês. Criou-se, pois, o “Grande Ducado de Posnânia”, outogrando-lhes direitos de certa autonomia. Permitiu o uso da língua polonesa e o funcionamento das escolas polonesas. Essa trégua, porém, teve efêmera duração. Em conseqüência dos malogrados levantes de 1830, 1848 e 1863, os poloneses perderam sua relativa autonomia (10).

O domínio do reino prussiano, do lado oriental, abrangia, em 1863, a região polonesa de Posnânia, Pomerânia e parte da Silésia. Tencionavam os prussianos incorporar, definitivamente, ao seu território toda aquela região, que durantes muitos séculos tinha sido parte integrante da Polônia. Para alcançarem tal objetivo, precisavam, antes de tudo, germanizar os seus súditos poloneses. A tarefa da assimilação de aproximadamente 4 milhões de indômitos poloneses exigia um processo metódico e a longo prazo. Em plano prioritário, foi criada a tal “Comissão Colonizadora”, cuja meta principal era obrigar os poloneses, a venderem suas propriedades aos prussianos. A seguir, organizou-se a chamada “luta agrária”, com a finalidade de arrancar das mãos de proprietários poloneses as terras que eles vinham ocupando desde tempos imemoriais. As terras eram confiscadas aos agricultores que se obstinassem a não vendê-las. Com base nessa lei desumana, os agricultores eram esbulhados das suas terras e casas, e substituídos por intrusos lavradores prussianos. Banidos das suas propriedades, os poloneses tinham a proibição de construir novas residências sem a prévia licença das autoridades prussianas (8).

Passou para a história o célebre episódio, ocorrido com o aldeão polonês, Wojciech Drzymała (1857-1937), (em pesquisa encontrei o nome de Michał Drzymała – pode estar havendo erro de impressão no livro de Stawinski ou outra razão desconhecida para a diferença de grafia para o nome do aldeão protagonista do episódio. (*)) a quem as autoridades prussianas haviam negado a licença de construir sua casa. Transformou ele uma carroça em casa e passou a morar na rua. Essa carroça moradia tornou-se símbolo da luta dos poloneses contra a política de germanização. A atitude destemida de Drzymała suscitou imitadores. Toda a imprensa européia comentou amplamente esse episódio, tecendo rasgados elogios à resistência heróica dos poloneses contra a injusta pressão prussiana (8).

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O processo de germanização dos poloneses por parte dos prussianos recrudesceu com o lançamento do malfadado “Kulturkampf” do autoritário chancelar Otto Von Bismarck. Na década de 1870 foi, severamente, proibido o uso da língua polonesa nas escolas, nas igrejas, nas repartições públicas e em todos os atos oficiais. Ademais, aos poloneses foi interditado o acesso a qualquer cargo público. Os prussianos empenharam-se, ainda, em germanizar os nomes poloneses de cidades, vilas, aldeias, praças, ruas, lagos, montanhas,… (19)

Convencidos de que a Igreja Católica constituía forte baluarte de polonidade, os prussianos desencadearam uma luta aberta contra o clero e as instituições católicas. A situação dos poloneses torna-se deveras desesperadora. De fato, como poderia sobreviver um povo esbulhado de seus haveres, privados de todos os direitos sociais e políticos e impedidos de se expressar em sua língua materna? Sem mais nem menos, sob o domínio prussiano os poloneses viram-se reduzidos à condição de párias (19).

No último quartel do século XIX, alarmante crise econômica generalizaram-se em todos os países europeus. O nível salarial era baixo e, por outro lado, ia crescendo cada vez mais o número de desocupados.

Milhares de lavradores tiveram que procurar trabalho fora do território prussiano. Isso, porém, só resolvia em parte o problema da superpopulação e da escassez de ocupação para todos. A fim de sustar o avanço da crise econômica os prussianos chegaram à conclusão de que deveriam liberar a emigração dos poloneses. Criou-se, então, um órgão de controle e orientação dos candidatos à emigração. Todo emigrante devia munir-se de passaporte oficial, redigido em língua alemã. Exigia-se, ainda, dos poloneses católicos que levassem consigo certificado de batismo e casamento religioso. É interessante notar que os párocos forneciam esses documentos exarados de caso pensado, em latim e não em alemão. Era uma espécie de protesto indireto conta a dominação prussiana (20).

De 1875 a 1900, mais de 20 mil emigrantes poloneses deixaram o território prussiano com destino aos países norte e sul americanos. Esse número, porém, foi aumentando até o começo da primeira guerra mundial. Nos países de destino, os poloneses eram registrados não como imigrantes poloneses, mas como prussianos. Aparece isso comprovado, por exemplo, pelo Mapa Estatístico da Imigração, que é conservado no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul em Porto Alegre (21). Entretanto, os imigrantes poloneses vindos embora da Prússia, jamais consentiram em ser considerados como prussianos.

No Paraná os polacos destinados a colônia Santa Cândida foram registrados pelas autoridades brasileiras como polacos prussianos (*).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS de Alberto Victor Stawinski

8 – CYRYLA, S. M. POLSKA (Podrecznik do Nauki Dziejów Ojczystych, Czesc II. Chicago, Illinois, 3800 Peterson Ave. 1933. – 288 pp. (POLÔNIA. – Manual da História da Pátria II Parte) p. 20, 38, 48, 51, 52,…

10 – HALECKI, O. HISTÓRIA DE POLÔNIA. Buenos Aires 1946. Editora Bezeta. 255 pp. (Vrsión Directa del Inglês por J. L. Izquierdo Hernandez) p. 158 ss.

19 – ANAIS DA COMUNIDADE BRASILEIRO-POLONESA. Superintendência das Comemorações do Centenário da Imigração Polonesa ao Paraná. Curitiba, PR., Rua Carlos de Carvalho, 575, 1970 a 1974. (7 Volumes)

1970, Vol. I e Vol. II.

1971, Vol. III, Vol. IV e Vol. V.

1972, Vol. VI.

1973, Vol. VII.

p. 16-27, 29-35 (Vol. I; p. 97-106 (Vol. II); p. 17-34, 82-103 (Vol. III); p. 23-24 (Vol. VII).

20 – WASTOWSKI, Mons. Pedro Protásio. INFORMAÇÕES SOBRE IMIGRANTES POLONESES ORIUNDOS DA REGIÃO SOB DOMÍNIO PRUSSIANO. Cf. Carta 15.09.1974. Arq. Inst. Hist. Capuchinhos. Cx P. 233. – 95.100 – Caxias do Sul, RS.

21 – ARQUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL. Porto Alegre, Rua André Puente, 318. – COLÔNIA CONDE D’EU, Linha Azevedo Castro I secção, Livro 511, 1877. – MAPA ESTATÍSTICO DA POPULAÇÃO COM A INDICAÇÃO DOS LOTES OCUPADOS E DEMONSTRAÇÃO DO DÉBITO DOS COLONOS À FAZENDA NACIONAL (01.01.1884, Colônia Conde D’Eu, Linha Azevedo Castro, I Secção, Fls. 50 – 105).

 

FONTES:

Stawinski, Alberto Victor. Primórdios da Imigração Polonesa no Rio Grande do Sul (1875-1975). Porto Alegre, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes; Caxias do Sul, Universidade de Caxias do Sul, 1976.

Wachowicz, Romão 1907

Homens da Terra/Romão Wachowicz, tradução de Francisco Dranka. Terceira edição, Curitiba, Vicentina, 1997, 337 p.

-Título Original em língua polonesa editado em Curitiba em 1962.

SZERSZENIE WRAJU

– Título da edição polonesa editado em Varsóvia em 1980.

POLSKIE KORZENIE

Goulart, Maria do Carmo Ramos Krieger. “Imigração Polonesa nas Colônias Itajahy e Principe Dom Pedro”: Uma contribuição ao estudo da imigração polonesa no Brasil Meridional. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1984.

 

IMAGENS:

Fonte: http://www.wykop.pl/link/1489701/woz-drzymaly/

Fonte: http://blogmedia24.pl/node/57580

Fonte: https://pl.wikipedia.org/wiki/Micha%C5%82_Drzyma%C5%82ª

 

(*) Nota de Danusia Walesko

 

O CASAMENTO DE JULIA

O CASAMENTO DE JULIA

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Ilustração Márcia Széliga

 

Duas senhoras polacas se encontraram. Em dado momento concluíram que uma tinha um filho em idade de casar e a outra uma filha também em idade de casar. Assim foram as duas até o padre e marcaram o casamento dos dois. Uma vez marcado o casamento corriam os proclamas que eram lidos pelo padre na missa de domingo. Era costume que na missa do primeiro proclama a moça que iria se casar fosse à missa com a sua melhor roupa, algumas até faziam novas vestes para essa ocasião. Julia foi à missa de domingo com suas vestes simples de dia de semana, quando o padre anunciou:

– Casamento de Julia Sługa com Francisco Skora.

E nesse momento de surpresa e espanto, sentindo como se um raio de morte a tivesse atingido, não sabendo para onde fugir ou o quê fazer minha bisavó Julia soube que iria se casar.

Como acomodou seu coração a essa nova realidade? Eu desconheço. O fato é que ela assim … casou. 

 

 

 

 

 

A PRIMEIRA IGREJA NA COLÔNIA SANTA CÂNDIDA – 06/01/1877

A PRIMEIRA IGREJA NA COLÔNIA SANTA CÂNDIDA – 06/01/1877

O presidente de província Adolpho Lamenha Lins esforçou-se logo de inicio em dotar a colônia de uma capela para o cultuo religioso dos colonos. Assim no próprio ano de fundação destinou um terreno de 76.681 metros quadrados e nele autorizou a construção de uma capela. Em seu relatório governamental de 1877 p. 84 e 85 assim descreve:

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Primeira Igreja da Colônia Santa Cândida benzida e inaugurada no dia 06/01/1877.

“Ultimamente terminou-se a construcção da capella que já foi entregue ao culto. É um edifício elegante, bem construído e está bem ornado e servido de paramentos, importando a despeza total em 6:397$000 (seis contos, trezentos e noventa e sete mil réis).”

Padre João Wislinski, em seu livro de crônicas, dá maiores detalhes dessa primeira igreja de Santa Cândida.

“… Era um quadrilátero de pedra até as janelas e depois de tijolos até a cobertura. Os tijolos procediam da Olaria Strese do Bacacheri, onde atualmente possui a Olaria Silvio Colle. O Sr. Strese era alemão católico. Os tijolos de sua Olaria eram muito bons, que hoje é difícil encontrar. No ano de 1910, do tempo do Pe. Leon Niebieszczanski, foi construído o presbitério em estilo gótico e duas pequenas sacristias. Anteriormente foi acrescentado na frente “babiniec” (lugar para as mães com nenês), de sorte que o comprimento de toda a Igreja tem 27 metros e a largura 6,40 metros. Não havia torre, somente ao lado campanário de madeira com dois sinos e sineta (“sygnaturka”).

Esta primeira Igreja de Santa Cândida tinha três altares, o principal de estilo imperial com a imagem de madeira 80 cm de altura de Santa Cândida, …  e dois altares laterais nos quais estavam uma pequena imagem do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora do Rosário.”

A capela foi solenemente benzida e inaugurada no dia dos santos reis (6 de janeiro) de 1877, com uma procissão que partiu de Curitiba, com cerca de 2.000 fieis, inclusive o próprio presidente da província, conduzindo uma imagem de Santa Cândida de 80 cm de altura, doada que fora pelo imperador D. Pedro II e adquirida em Lisboa.

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à esquerda: Imagem de Santa Cândida de 80 cm de altura, doada pelo imperador D. Pedro II, adquirida em Lisboa e entregue a colônia Santa Cândida em 06/01/1877. À Direita: Altar principal em estilo imperial com a imagem de madeira 80 cm de altura de Santa Cândida da primeira igreja da colônia que foi transferido para a segunda igreja.

O jornal governista, Dezenove de Dezembro, assim registrou o translado da imagem de Santa Cândida da matriz de Curitiba para a respectiva colônia.

“… os colonos dos arredores da capital em numero superior a dois mil, seguidos de uma multidão de fieis desta cidade, formaram a procissão que desfilou pela estrada da Graciosa até a bella colina onde está construída a elegante capella da colônia. A colônia Argelina (leia-se Santa Cândida) empavesou-se com arcos de folhagens, onde se liam inscrições relativas … uma comissão de meninas vestidas de branco, em nome da infância a quem S. Ex. (Lamenha Lins) fornece com tanta liberalidade o pabulo da instrução, depoz nas mãos do benemérito presidente singela e muito significativa manifestação. Os colonos de Argelina (leia-se Santa Cândida) fizeram-se representar por sua vez perante S. Ex. exprimindo-lhe a satisfação que experimentam diante dos progressos da colonização …. O povo aglomerado na collina, onde foi edificada a capella, oferecia aos que chegavam um imponente espetáculo. … Os distintos encarregados do alojamento dos imigrantes, e agente da colonização as suas expensas distribuíram pão e carne entre os colonos, que compareceram a festa.”

 

E assim passou o tempo e a capela foi servindo a seu propósito quando em 1929 o padre Paulo Warkocz iniciou a construção da nova Igreja.  Pe. Paulo foi transferido para Irati em janeiro 1931 e coube ao Pe. João Wislinski que assumiu a paróquia em dezembro de 1931 concluí-la. Há duras penas, com diversas paralisações, por falta de dinheiro, a nova igreja foi concluída e em maio de 1936 nela foi rezada a primeira missa.

 

Então no dia 19 de fevereiro de 1940 procedeu-se a demolição dessa primeira igreja da colônia. A respeito dessa demolição Pe. Wislinski assim escreve em suas crônicas:

“Como a antiga Igreja estava em outro lugar, do outro lado da estrada, poderia ter sido conservada, pois, a construção era muito sólida. Poderia servir como residência paroquial. Infelizmente, somente 2 metros de distância, foi erguida a nova imponente Igreja, de tal sorte que, ficou entre a nova Igreja e o Cemitério paroquial. Tinha que sucumbir à demolição. O povo, principalmente os idosos e adultos lamentavam, quando começaram demolir as paredes da “velhinha”. Não é de admirar, pois, elas eram tão antigas como a estadia deles em Santa Cândida. Foi nela que eles contraíram matrimônio, batizaram os seus filhos, dela conduziam os primeiros colonos pioneiros, os seus familiares, para o descanso eterno no Cemitério ao lado. Foi nela que ouviam a Palavra de Deus, purificavam-se dos pecados, alimentavam a alma com as orações e a Sagrada Comunhão. Foi lá que eles hauriam força e coragem nos momentos difíceis, sobretudo nos primórdios na Terra Brasileira. – O que fazer! Assim é na vida dos homens, os idosos deixam lugar aos novos; amada e venerável, a primeira Igreja católica em Santa Cândida desceu ao sepulcro, fazendo lugar para a sua nova e suntuosa sucessora, … cabendo a esse padre o triste dever de pôr no sepulcro esta primeira Igreja de Santa Cândida na colônia de Santa Cândida.”

 

Pe. João Wislinski ainda relata:

 

Os trabalhos (de demolição) foram conduzidos pelo Sr. Matias Walecko, em substituição ao mestre de obras José Kowalczyk de Curitiba. Tudo levou um mês de trabalhos diários, terminaram na quarta-feira Santa, 21 de março. Ajudaram cerca de 100 famílias voluntárias. Os meninos de 12 a 15 anos ajudaram muito na limpeza dos tijolos e carregamento de entulhos. As despesas da demolição se elevaram a 768$500 (setecentos e sessenta e oito mil, quinhentos contos de réis): Matias Walecko, 24 dias …291$000; Francisco Walecko, 24 dias, 200$000; José Kulik, 25 dias, 222$000; Inácio Otto, 11 dias, 55$000.

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Primeira Igreja da Colônia Santa Cândida sendo demolida em fevereiro de 1940.

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Primeira Igreja da Colônia Santa Cândida sendo demolida em fevereiro de 1940.

Da antiga Igreja, foram recuperados 34 mil tijolos em bom estado e 5 mil de meio tijolo. Além disso, 70 m3 de pedra e 32 m3 de areia. Tudo isso serviu para a construção dos muros ao redor da Igreja e ampliação do cemitério. A venda das telhas e da madeira da antiga Igreja rendeu 1.028$300 (hum conto, 28 mil e trezentos réis).”

 

FONTE:

PARANÁ. Relatório do presidente Adolpho Lamenha Lins … 1877, p. 84-85.

FEDALTO. Pe. Pedro. A Arquidiocese de Curitiba na sua história. Curitiba, 1958, s/ed. p. 117.

DEZENOVE DE DEZEMBRO. Curitiba, 10 jan. 1877.

WISLINSKI.  Pe. João. CRÔNICA DA PARÓQUIA DE SANTA CÂNDIDA – PARANÁ E DA CASA DOS PADRES da MISSÂO DO ANO DE 1932 – 1945. Tradução livre feita pelo Pe. Lourenço Biernaski, CM. Curitiba, 10 de dezembro de 2012.

Mangual (cep): Instrumento agrícola para debulhar cereais

Mangual: Instrumento agrícola para debulhar cereais

Mangual  (em polonês e em silesiano escreve-se Cep e lê-se tsep) é um instrumento através do qual se malha cereais para debulhá-los. Consiste em um pedaço de madeira comprido e fino no qual se sustenta a base, chamado de mango, que serve de cabo. Esse cabo é ligado por uma correia de couro, chamada por sua vez de inçadouro, a um outro, curto e grosso, o pírtigo, que percute as hastes da planta, que são geralmente trigo e cevada. Na Colônia Santa Cândida era utilizado para malhar trigo, centeio, cevada e também o feijão.

 

“Cep” é uma palavra utilizada pela línguas eslavas.

Em russo escreve-se “цеп” (“u com cedilha”, “é” e “pi”) e lê-se tsep.

Em ucraniano escreve-se “ціп” (“u com cedilha”, “i” e “pi”) e lê-se tsip.

Em biela-russo escreve-se “цэп” (“u com cedilha”, “é invertido” e “pi”) e lê-se tsip.

As línguas acima relacionadas utilizam o alfabeto cirílico com pequenas variáveis entre elas.

Em polonês escreve-se “Cep” em letras latinas. O plural de “Cep” é “Cepy” e lê-se tsepi.

 

Assim temos ” jeden cep – dwa cepy”

Mangual

 

Mangual (cepy)

Mangual (cepy)

 

FONTE: Internet

Colaboração: Domiciano Spisla e Alexandre Spisla

 

Imigração e Desenvolvimento da Família Spisla – Por Marcos Spisila

Resumo – Este artigo apresenta uma síntese dos eventos ocorridos na região da Silésia e que
culminaram na emigração, de uma parcela de sua população, para as terras brasileiras; os
sobrenomes existentes na época, seus significados e pronúncias, os quais foram herdados e são
utilizados, até hoje, pelos descendentes brasileiros; a língua falada pelos silesianos e que permanece
viva na memória de alguns moradores. O artigo faz menção da atual localização geográfica da região
de origem de muitas famílias do bairro de Santa Cândida e também cita as dificuldades e esperanças
depositadas na nova terra e finaliza levantando a árvore genealógica da família Spisla, uma dentre
tantas, que vieram atrás de novas oportunidades, em uma terra totalmente desconhecida.

Para download do artigo completo clique no botão Download. 

 

 

 

Padre Leon Niebieszczański – Imagens

Imagens do Padre Leon Niebieszczański

Continuando o post anterior sobre o Tiroteio na casa paroquial com Padre Leon Niebieszczański (clique aqui para acessar o post anterior), segue duas imagens do ilustre padre.

Padre Leon Niebieszczański

Padre Leon Niebieszczański

 

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Lista dos Ocupantes dos Lotes da Colônia Santa Cândida Conforme Livro de Conta Corrente N.º 837

Segue a lista dos ocupante dos lotes da colônia Santa Cândida em 1875 à 1877.

 

NOME

Gaspar Skoch
Estevão Otto
Margarida Poykala
Francisco Kulig
Gregório Skora
Urbano Kachel
Mathias Gbur – Miguel Gbur
Thomaz Barick
Thomaz Macioszek – transferido a Andre Baldy em 20 de fevereiro de 1896
Simão Prodlo
Lourenço Manka
Jose Waldera
Braz Kolodrej
Pedro Kachel
Augusto Prodeliky
Theodoro Wosch
Estevão Kachel
Joao Czaja
Leopoldo Czebula
Joao Koch
Thomaz Sprada foi transferido a Anastácia Sprada em 28 de julho de 1898.
Maria Dubiella (Jose Barviki)
Jose Spiada – Anastácio Sprada
Catharina Barbara Nadolny
Julio Rolski transferido a Joao Nadolny em 29 de abril de 1898.
Bartholomeu Wosch – Joao Skroh
Anna Arasmus
Jose Nadolny
Bernardo Walecko (Francisco)
Jacob Otto
Urbano Schneider
Alberto Soppa
Urcula Kubis
Victor Manka
Eduvirgem Walecko (Pedro Walecko)
Thomaz Voicik
Rozalia Stolmach (Frau co Mainka)
Eva Klink
Jordão Julio Clemente
Joao Nicolao Rauzes
Joao Rudetz
Augusto Kampa
Simão Baudy
Gaspar Spisla (Margarida)
Verônica Sveda
Lourenço Makiolka (Rozalia Makiolka)
Antão Woch (Beata Woch)
Francisco Makiolka (Maria Makiolka)
Rozalia Wolecka
Bartholomeo Wosch
Jose Schultz – Joao Soppa
Thereza kroche – Frau co Skroche
Roberto Kubis
Joao Soppa
Pedro Kubis
Ignacio Dittmann
Roque Sluga
Eva Klink
Anastacio Maluszenski (Francisco Kulig)
Mathias Kupka
Bruno Muciossek – Lucas Muciossek
Rozalia Kania
Thomaz Wenki
Jose Masienski

LOTE Nº 

1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64

RESUMO: Este núcleo é dividido em 64 lotes com a área total de 6130154,03 m2 ou 1266.560,75 braças 2 que a razão de 9,7 réis e os 20% do regulamento geral com mais 50.000 reis de casa por cada lote prefaz a importância de Rs 17:942$766.

FONTE: Livro de conta corrente nº 837, DEAP-PR.

Observação: Transcrição literal do que esta escrito no livro, incluindo nomes riscados.

 

Ordenação Sacerdotal de Domingos Kachel

Ordenação Sacerdotal de Monsieur Domingos Kachel, na Igreja das Mercês, Curitiba – PR. 19 de Dezembro de 1959. Presentes conforme a numeração: 1 – Francisco Serighelli, 2 – Luiz Fernando Serighelli, 3 – Maria Cândida Kachel, 4 – Fatima Kachel, 5 – Não identificado, 6 – Augusto Spisla, 7 – Edwirges Machoski (Starka Kuliska), 8 – Regina Kulik Kachel, 9 – Padre Fabiano Kachel, 10 – Padre Domingos Kachel, 11 – Padre João Wilinski, 12 – Lodovico Kachel, 13 – Pedrinho Wosch, 14 – Blanca Kachel, 15 – Regina Serighelli, 16 – Silvia Kachel, 17 – Rogério Spisla, 18 – Hotélia Kachel, 19 – Domingos Spisla, 20 – Maria Joana Kachel Serighelli, 21 – Silvia Rachel Kachel Serighelli, 22 – Adir Serighelli, 23 – Não identificada, 24 – Não identificado, 25 – Francisco Wosch, 26 – Pedro Kachel, 27 – Ceriaco Wosch, 28 – Não identificado, 29 – Aleixo Schluga, 30 – Não identificado, 31 – Vicente Spisla, 32 – Não identificada, 33 – Antonia Kachel Spisla, 34 – David Kachel, 35 – Não identificado, 36 – Gregório Wosch, 37 – Philomena Kachel Schluga, 38 – Paulo Kulik. Ordenação Sacerdotal de Monsieur Domingos Kachel, na Igreja das Mercês, Curitiba – PR. 19 de Dezembro de 1959.

Ordenação Sacerdotal de Monsieur Domingos Kachel, na Igreja das Mercês, Curitiba – PR. 19 de Dezembro de 1959. Presentes conforme a numeração: 1 – Francisco Serighelli, 2 – Luiz Fernando Serighelli, 3 – Maria Cândida Kachel, 4 – Fatima Kachel, 5 – Sérgio Spisla, 6 – Augusto Spisla, 7 – Edwirges Machoski Kulik (Starka Kuliska), 8 – Regina Kulik Kachel, 9 – Padre Fabiano Kachel, 10 – Monsenhor Domingos – Padre Domingos Salomão Kachel, 11 – Padre João Wilinski, 12 – Lodovico Kachel, 13 – Pedrinho Wosch, 14 – Blanca Kachel, 15 – Regina Serighelli, 16 – Silvia Kachel, 17 – Rogério Spisla, 18 – Hotélia Kachel Spisla, 19 – Domingos Kachel Spisla, 20 – Maria Joana Kachel Serighelli, 21 – Silvia Rachel Kachel Serighelli, 22 – Adir Serighelli, 23 – Não identificada, 24 – Roque Spisla, 25 – Francisco Wosch, 26 – Pedro Kachel, 27 – Ceriaco Wosch, 28 – Não identificado, 29 – Aleixo Schluga, 30 – Estanislau Spisla, 31 – Vicente Spisla, 32 – Longuina Klenk Kachel, 33 – Antonia Kachel Spisla, 34 – David Kachel, 35 – Não identificado, 36 – Gregório Wosch, 37 – Philomena Kachel Schluga, 38 – Paulo Kulik. Foto: acervo Tereza (Kulik) Czepaniki

 

A POLACA E O PENICO

A POLACA E O PENICO

 

Dobrą i piękną miskę – Boa e bonita tigela

A polaca ganhou de presente um penico. Esqueceram, no entanto, de lhe informar a que servia o dito objeto. Não sabendo, achou que fosse uma tigela com orelha. Gostou muito e achou muito boa para colocar leite para coalhar. Quando foi à cidade comprou mais alguns. Mais tarde, quando uma amiga lhe visitou, mostrou orgulhosa suas tigelas com orelhas, cheias de leite para coalhar.

 

A PRÉ-HISTÓRIA DE SANTA CÂNDIDA – Parte III

A POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO NA PROVÍNCIA DO PARANÁ

A PRÉ-HISTÓRIA DE SANTA CÂNDIDA – Parte III

 

Adolpho Lamenha Lins nasceu em 27 de junho de 1845, na cidade do Recife, em Pernambuco, onde também estudou e recebeu o título de bacharel em Leis no ano de 1867. De família abastada e tradicional, neto de marquês e filho do coronel Bento Jose de Lamenha Lins, do qual ficou órfão aos sete anos. No dia 08 de dezembro de 1865, desposou sua sobrinha materna, Maria Leonor Corrêa de Sá e Benevides. Esta lhe deu um filho, Bento Jose de Lamenha Lins em 29 de agosto de 1866 e o deixou viúvo, aos 22 anos, em 19 de julho de 1867. Em 1874, casou-se pela segunda vez. Agora com Cândida de Oliveira. Tiveram três filhos: os dois primeiros, com o nome do pai, jazem em cemitérios de Curitiba. Virgilio, o terceiro, sobreviveu.

Lamenha Lins iniciou a sua carreira política exercendo o cargo de promotor público na Província de Alagoas. Na sequência, além de secretário do governo e deputado da Província de Pernambuco, foi também diretor da Sociedade Emancipadora do Recife. Antes de ser nomeado pelo governo imperial para assumir a presidência da Província do Paraná, já havia presidido a Província do Piauí no ano de 1874, porém não permaneceu no cargo, tendo solicitado, exoneração naquele mesmo ano. No Paraná, ocupou o cargo de presidente de província, “sendo nomeado através de um ato imperial em 10 de abril de 1875, tomando posse no dia 8 de maio” (SANTOS, 1995, p. 238).

Politicamente era considerado liberal, tendo sido um “partidário entusiástico do movimento em prol da libertação dos escravos…”

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Lamenha Lins

Homem de ação, bom político, hábil e simpático no trato com as pessoas, logo superou a frieza com que fora recebido. Em pouco tempo, por essas qualidades e pela firmeza, bom senso e serenidade que imprimia aos atos governamentais, conquistou a amizade e o respeito dos paranaenses. (SANTOS, 1995, p. 239 e 240).

No Paraná sua administração deu grande desenvolvimento ao ensino, sobretudo secundário: reformou o Liceu Paranaense e criou a Escola Normal. Também o ensino primário recebeu benéfico influxo, com a melhoria cultural dos professores. Lançou as bases para a construção da catedral de Curitiba, cabendo-lhe a responsabilidade de ordenar a demolição da velha, histórica e tradicional matriz do século XVIII, cujas torres, levantadas em 1855, saíram do prumo e desarticularam a taipa da vetusta edificação descrita por Saint Hilarie (CARNEIRO, 1994, p. 262).

Mas foi a colonização a principal meta de sua administração. Uma das suas primeiras atitudes ao assumir o governo foi ver “in loco” a situação da colônia Assungui, que assim relata.

Não podendo demorar-me por mais tempo, para percorrer todo o território, fui aos lotes dos colonos mais antigos e que me diziam serem os mais bem estabelecidos; observei, porem, que a lavoura se limitava a plantação de algumas laranjeiras, bananeiras e a cultura de canna em muita diminuta escala. Estes mesmos colonos, considerados em melhores condições, mal tiram de sua lavoura o preciso para o seu sustento,… (LAMENHA LINS, 1875, p. 82)

Além, da colônia Assungui, Lamenha Lins tomou conhecimento das demais experiências de colonização da província, dentre elas: Superagüi, Ivaí, Alexandra, Eufrasina, Pereira e Colônia Militar do Jataí e dos Aldeamentos de São Pedro de Alcântara, de São Jerônimo e de Parapanema, e ainda das colônias municipais existentes no rocio de Curitiba: Colônia Argelina (1869), Pilarzinho (1871) e Abranches (1873).

Assim Lamenha percebeu que as experiências colonizadoras realizadas em regiões afastadas e isoladas (por exemplo Assungui), ocasionavam a decadência dos núcleos, além de gerarem aos cofres públicos grandes investimentos com diminutos resultados. Os colonos já instalados nos arredores de Curitiba estavam satisfeitos e prósperos, além de apresentarem para a sua instalação custos bem menores.

Semelhante aos outros presidentes da província, Lamenha almejava atrair correntes de imigração espontânea. Mas para o alcance dessa meta, algumas mudanças, que variavam desde a abordagem feita ao imigrante, ainda em seu país, até o transporte dessas pessoas, precisariam ser implantadas. As seis melhorias propostas por ele, tidas como bases para a política de imigração em seu governo foram:

    • Dizer a verdade ao imigrante sobre a nova pátria que vem procurar e, em vez de poéticas descrições e exageradas promessas, convencê-lo de que temos a seu alcance terras fertilíssimas, e promovemos a construção de boas vias de comunicação.
    • Facilitar-lhe o transporte, evitando que o imigrante sofra privações e mau tratamento até o termino de sua viagem.
    • Dividir bons lotes de terras nas vizinhanças dos centros populosos e fazê-los comunicáveis por estradas de rodagens.
    • Fazer o colono aderir à terra que habita, pelo direito de propriedade, facilitando-lhe a aquisição dela.
    • Evitar que o imigrante, ao chegar, sofra vexames que lhe abatam o animo, aos seus primeiros passos em regiões desconhecidas.
    • Estabelecer bem o colono, com todos os favores prometidos, e depois libertá-lo de qualquer tutela, deixando-o sobre si, e entregue ao desenvolvimento de sua própria iniciativa.

Foi com base nessas considerações teóricas, apresentadas no relatório de 1876, que o presidente Lamenha Lins fundou, em torno de Curitiba, um verdadeiro círculo de colônias organizadas com imigrantes europeus. No relativamente curto período de sua gestão frente ao governo da Província do Paraná, fundou as colônias de Santa Cândida, Orleans, Dom Pedro, Dom Augusto, Tomás Coelho, Lamenha Grande, Lamenha Pequena, Santo Inácio e Reviere.

Em relação a sua gestão na Província do Paraná, a historiografia afirma que ele teria implantado um novo sistema de colonização, fundando diversas colônias nos arredores de Curitiba, diferentemente dos modelos já organizados na província e até mesmo no Brasil. A esse sistema deu-se o nome de Linismo, e a colônia Santa Cândida passou a ser considerada a pioneira dentro dessa filosofia.

Por conta dos gastos por ele empreendidos, sua gestão foi bastante criticada, pois foi grande o número de obras executadas no decorrer do seu governo, sejam elas direcionadas a reformas de estradas, alargamento ou abertura das mesmas, assim como na construção de pontes, capelas entre outros empreendimentos, como a compra dos lotes para o assentamento dos numerosos imigrantes recebidos entre os anos da sua administração.

Os jornais que eram veiculados no período traziam mais detalhes dessas críticas, principalmente no fim da gestão de Lamenha Lins, como exemplifica o trecho publicado no jornal Província do Paraná, sob o título “Parabéns à Província”:

Acha-se, afinal, destituído da presidência desta província o atrabilitário pró-consul que tantos e tão grandes males tem derramado sobre ela, no longo período da mais nefasta administração que tem infelicitado o Paraná.

Assim, Lamenha Lins é destituído em 16/07/1877. O linismo então, apesar do sucesso inicial, é passado a segundo plano e recebe duras criticas.

A província do Paraná é tomada por uma onda de regozigo e entusiasmo com a presença de imigrantes russos-alemães, que são assentados nos campos gerais, longe dos centros de consumo, em oposição ao modelo linista. Mas em pouco tempo essa colonização vai se revelando um fracasso. Enquanto isso, os imigrantes estabelecidos nos arredores de Curitiba, particularmente os de Santa Cândida, solicitam ao presidente da província passagem para suas famílias residentes na província da Silésia – Reino da Prússia, que desejavam emigrar para o Brasil e estabelecer-se na circunvizinhanças de Curitiba.

Na década de 1880 a província reassumiu alguns dos princípios do linismo e surgiram novas colônias ao derredor de Curitiba.

“… atrair o colono é pouco, localiza-lo convenientemente, eis tudo. …” (OLIVEIRA 1884, p. 15).

Em 1903 quando Tobias Monteiro visitou o Paraná, ele apresenta o seguinte relato:

Em volta da cidade cresce a raça nova, que já a invadiu, ostentando na frente das casas de commercio os seus nomes de origem. Foi o finado presidente Lamenha Lins, pernambucano e pai do deputado federal de igual nome, o benemérito administrador que primeiro fundou nos arredores de Curityba núcleos de população europea. Ao principio accusaram-no de comprar caro os terrenos, allegando-se que longe no interior poderia obter grandes extensões por preço muito menor. Mas elle respondia com razão ser inépcia reunir colônias longe dos centros populosos e boas estradas, pois os seus productos não teriam consumo. Hoje, todos verificam o acerto das suas resoluções (MONTEIRO, 1903, p. 12).

Lamenha Lins e Santa Cândida

O presidente de província Lamenha Lins revelava certa simpatia pela colônia Santa Cândida, pois foi nesta colônia que inicialmente colocou em prática suas concepções sobre como deveria processar-se a colonização estrangeira na província. Os colonos de Santa Cândida, por sua vez, também lhe eram muito gratos, a ponto de expressarem essa gratidão na forma de um quadro, com o retrato do Lamenha Lins, na sacristia da igreja, com a seguinte legenda:

Tributo de gratidão e lembrança que a memória do ex-presidente e Inspector Especial de Colonisação Dr. Adolpho Lamenha Lins, fallecido na Capital da Província de Pernambuco a 4 de setembro de 1.881; consagrado Agente de colonisação d’esta Província do Paraná pelo mesmo finado Dr. Lamenha Lins. Este retrato que fique para memória collocado na sacristia da Capella de Santa Cândida. Curityba, 20 de outubro de 1881. Joao Baptista Brandão Proença.

Lamenha Lins faleceu em sua cidade natal, Recife, em 4 de setembro de 1881, com 36 anos de idade. Hoje o retrato da sacristia aguarda por restauração na casa paroquial, e o nome Lamenha Lins esta ligado a uma das colônias por ele fundadas e também se faz presente numa longa Rua de Curitiba, na qual esta estabelecido o Colégio Estadual Presidente Lamenha Lins.

 

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Giselle Cardoso de. Formação do Bacharel em Direito no século XIX. 2006. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2967/Formacao-do-Bacharel-em-Direito-no-seculo- Acessado em: 26/04/2014

BOLETIM  Informativo da Casa Romário Martins. Santa Cândida, pioneira da colonização linista. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, ano 2, n. 16, dez. 1975.

CARNEIRO, David. História do período provincial do Paraná: Galeria de presidentes da província. Curitiba: Banestado, 1994.

MONTEIRO, Tobias. Do Rio ao Paraná. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1903.

OLIVEIRA, Basílio Augusto Machado de. Relatório do presidente da província, 1884.

PARANÁ. Relatório de Presidente de Província do Paraná Dr. Adolpho Lamenha Lins apresentado a Assembléia Legislativa do Paraná em 15 de fevereiro de 1876. Curityba: Typ. da Viúva Lopes, 1877.

POLINARSKI, Flaviane da Silva. A representação sobre a imigração nos discursos de Adolpho Lamenha Lins (1875-1877). Curitiba: Monografia em Licenciatura e Bacharelado em História, UFPR, 2008.

SANTOS, Ayrton Ricardo dos. Lamenha Lins e o engenho central de Morretes. BIHGEP, vol. XLIX, 1995.

SKORA, Felippe. O Arauto, Jornal paroquial, julho/agosto/1996, Historia de Santa Cândida (19).